...dizia Camões. E é
isto que me vem à mente para iniciar o que aqui vos queria contar. E eu conto:
nas minhas primeiras viagens com o J. eu agia qual japonês de máquina
fotográfica em riste a retratar as pedras da calçada, as esquinas dos
edifícios e os pombos nos bebedouros (como se não houvesse calçada, esquinas ou
pombos no nosso cantinho à beira-mar plantado). E ele, para além de
aborrecer-se imenso com a minha demora, não evitava uma torcida de nariz sempre
que eu lhe pedia para me tirar uma fotografia (o que acontecia com muita cadência,
admitamos -- «Olha a Torre Eiffel.» Tira foto. «Olha um tobogã!» Tira foto. «Olha
a Casa Milà.» Tira foto.)
Talvez tenha sido por esta minha obsessão. Talvez seja
sintoma contagioso. Ou talvez nada disto. Mas a verdade é que o J. um dia
decidiu: «se é para fazer fotografia, então que seja a sério». Investiu em
material, investiu em alguma formação, e lançou-se à produção de imagens.
E agora vos digo: cuidado com aquilo que desejam. Porque eu almejei
que ele não se mostrasse tão fastidioso quando eu lhe pedia para me retratar (porque
o meu sorriso reage a estímulos), e quando dei por mim estava a ser alvo de milhares
centenas de fotografias e a desesperar: «já chega, J.», «estou cansada», «já me
doem os maxilares de tanto sorrir», «por favor pára», «já estás a exagerar»,
«não sejas chato», «olha, vou-me embora, sim?». E a verdade é que ele desenvolveu um inquestionável engenho, mostrou uma verdadeira aptidão, e ainda
agora começou.
E sim, podem considerar-me suspeita a bradar acerca do seu
talento. Eu suspeitaria. Mas pelos vistos a opinião é partilhada por uns
quantos entendidos, pois no outro dia nós fomos ele foi surpreendido por
um convite inusitado.
Então este dia vai ser passado na execução do objecto do
convite: entre produção, maquilhagem, guarda-roupa, cenários, cenas e actores
(um mais amador do que outra). O J. vai fazer a sua primeira realização cinematográfica. É certo
que é apenas a de uma ínfima parte de uma longa-metragem, mas que importa? Uma casa
não se constrói do tecto.
J. na mira da minha objectiva. J. under the sight of my lens. |
…said Camões. And this is what comes to my mind to kick
off what I wanted to tell you about. And I’ll tell you: during my first trips
with J. I acted as Japanese with my camera poised to portray cobblestones,
buildings corners and pigeons in drinkers (as if there weren’t sidewalks,
corners or pigeons in our little country planted on beachfront). And J.,
besides getting bored with my delay, he wouldn’t avoid twisting his nose
whenever I asked him to photograph me (what happened too often, let’s admit it
-- «Look, there’s Eiffel Tower.» Take a photograph. «Look, there’s a toboggan.» Take a photograph. «Look,
there’s Milà House.» Take a photograph.)
Maybe it was because of this obsession. Maybe this symptom
is contagious. Or maybe because none of this. But the truth is
J. once decided: «if the purpose is to shoot, then you shall shoot perfectly». He
invested in material, invested in his education, and he tossed himself to image
production.
And now I tell you: be careful what you wish for. Because
I wished that he wouldn’t show himself so fastidious when I asked him to take
photographs to me (because my smile reacts to spur), and then I found myself
being the target of thousands hundreds of photographs and despairing:
«it’s enough, J.», «I’m tired», «my jaws already hurt because of smiling so
much», «please stop», «you’re over reacting», «don’t be so boring», «look, I’m going
away now, ok?». And the truth is that he developed an unquestionable ingenuity,
showed a true ability, and he has just started.
And yes, you may consider myself suspect when crying
out about his talent. I’d suspect it. But apparently my opinion is shared by
some connoisseurs; because on the other day we were he was surprised by
an unusual invitation.
So we are going to spend this day executing the object
of the invitation: between productions, make-up, costumes, sceneries, scenes
and actors (one more amateur than other). J. is going to make his first
filmmaking. Admittedly, it is only a tiny part of a feature film, but who
cares? A house is not built from the ceiling.
Escreves super bem!Como é que te chamaS? ahha
ResponderEliminarIsso parece um daqueles piropos supersónicos que se ouvem nas discotecas. :-P
EliminarDo género:«Belas pernas. A que horas abrem?» Lololol...
Virou-se o feitiço contra o feiticeiro! :)
ResponderEliminar♪ Be careful what you wish for, 'cause you might just get it all ♫
Eliminar7D. Grande "machine". É essa a "bomba de trabalho" do "J" ? Se for, não admira que esteja a levar isso a sério...Boa sorte para a realização.
ResponderEliminarITK, o J. está já habituado a grandes máquinas desde que me conheceu. :-D
EliminarTenho de ser sincera contigo, eu adoro vir aqui, parto-me a rir com o teu sentido de humor.
ResponderEliminarSe soubesses como o teu J me faz lembrar o maridinho, que tem a mesma paixão pela fotografia e investiu imenso na coisa ( é apenas amador ).
Antigamente pedia-lhe para registar tudo e todos, hoje imploro-lhe que por amor de Deus não me tire fotografias ( à minha pessoa ), mas o " raio do homem " está sempre com a mão no " gatilho " e pimba, quando dou por ela já disparou.
Achei imensa piada ( no bom sentido ), ao teu comentário no meu post, por já ter filhos na faculdade e com namorada.
Ainda me estou a rir! Sabes, eu já sou da velha guarda, mas juro que não sou uma velha jarreta!
Uma coisa é certa, os 51 ninguém mos tira, mas tenho pensamentos de uma jovem sonhadora. Bom fim-de-semana. Bjs
Se a ti não tiram os 51, a mim não tiram um humor temporariamente sarcástico. That's my thing... :-P
EliminarTinha um grande talento escondido, é o que é.Parabéns!
ResponderEliminarE sabe-se lá mais o que ainda há-de revelar...
EliminarSem dúvida um bom material para se trabalhar!!!
ResponderEliminarBjxxx
Confirma-se. Foi, realmente.
EliminarEhehehe OLha aproveita. Eu tb gostava que o meu tivesse interesse em fotografar mas nada. Para me tirar uma foto tenho de pedir por favor! :(
ResponderEliminarI've been there. I've experienced that. Pode ser que um dia mude, como o J. mudou. Mas depois prepara-te; não há meio termo. :-)
EliminarDeste-lhe um empurrãozinho sem te aperceberes! Espero que a primeira realização cinematográfica lhe corra bem! :D
ResponderEliminarSou tipo esposa do Ang Lee: um dia estarei em L.A., no ex-Kodak Theatre, a ver o J. receber um Oscar e a dizer que se não fosse eu ele nunca tinha abraçado a carreira. :-P
EliminarMuitas vezes é desses hobbies que surgem grandes paixões:) o homem cá de casa também uma máquina jeitosa e tem imenso jeito, mas a vontade é que nem sempre abunda!
ResponderEliminarMuita sorte para essa realização e que venham outros convites:)
Beijos
Se o J. aqui viesse diria que nem sempre a vontade abunda, mas eu acho que sim, que ele goza bem o investimento no material. ;-)
EliminarGrande investimento do J. 7D :)
ResponderEliminarAviso que a fotografia não pára, estou no campo desde Nov 2011, não com a cadência com que queria, e há sem pre qualquer coisa nova.
Estou prestes a ir numa phototrip, aguardo por os primeiros dias de calor.
Depois mostra o que puderes do resultado.
O que é uma phototrip? Uma "orgia fotográfica"?
EliminarAssim que o J. me autorizar e houver novidades do projecto, eu levanto o véu por aqui. ;-)
Assim como existe surftrip existe phototrip, acho eu :)
ResponderEliminarSerá uma viagem emq ue grande parte do tempo será dedicado à fotografia. A que está a ser preparada será ao Porto, em género de desafio, tentarei fazer um relato fotográfico da cidade aos de quem a vê pela segunda vez.
A sério que tu só vieste ao Porto uma vez na tua vida? Havias de ser multado.
EliminarSim. Pior R. O meu pai vive em Gaia...
ResponderEliminarMas agora sabe muito melhor, porque vejo com outros olhos, "a primeira vez", a cidade.
Isso ainda é mais imperdoável. A menos que venhas muitas vezes a Gaia e fiques com preguiça de atravessar a ponte. :-P
EliminarNão. Não fui muitas vezes a Gaia.
ResponderEliminarProcuro disponibilidade para conhecer toda essa zona. A ver se não caio é num bairro menos seguro, bem sei que há uns quantos.
Não sei... Tirando Vila D'Este, não estou a lembrar-me de outras zonas esquisitas por lá. Mas a verdade é que conheço mal Gaia. Só mesmo a zona do cais, e um ou outro bairro onde tive amigos, e onde em tempos fui festejar o São João. Mas francamente, julgo que o mais perigoso no norte é menos perigoso do que o mais perigoso do sul. (Ó pra mim, a ser regionalista. :-P)
EliminarPois não sei. Queria fazer a phototrip sozinho, mas já me aconselharam a não fazer porque vou andar com a máquina. Vai correr bem.
ResponderEliminarClaro que vai correr bem. Faz-te acompanhar de alguém, até pelo gozo da partilha. De qualquer modo não me parece que isto seja assim tão perigoso, ao ponto de ficares com receio de o fazer sozinho!
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