*****Era uma vez a Fada Emoções. Ela vivia na aorta de todos os meninos e meninas, e com o seu condão conduzia as coisas que eles e elas sentiam. Durante anos e anos ela habitou despercebidamente naquele lugar e de quando em vez fazia cócegas por dentro aos meninos e às meninas, só para perceber o resultado da sua magia.
*****Só que um dia o Coração reparou nela e o seu coração começou a bater mais forte. Vieram as borboletas no estômago do Coração, as lágrimas de nostalgia nos olhos do Coração e as promessas de amor na boca do Coração.
*****Mas a Fada Emoções, com uma ordem de trabalhos bem definida, tentou explicar ao Coração que o coração dela não podia ser só dele, pois ela tinha de habitar e trabalhar em biliões de sítios ao mesmo tempo -- embora fosse sempre o mesmo sítio: a aorta dos meninos e das meninas do mundo inteiro. Mas eram muitas aortas.
*****O Coração não percebeu porquê, e ficou com o seu coração partido. Imediatamente expulsou-a da sua aorta. E os meninos e as meninas deixaram de sentir cócegas, de chorar, de ter pêlos eriçados ou de se zangar. As mães dos meninos e das meninas ao início não perceberam e até gostaram da ausência de emoções. Eles e elas comiam sempre a sopa sem fazer birras, dormiam sem pesadelos, e não empurravam as mães quando elas os abraçavam. Mas também não as abraçavam de volta, e foi quando as mães dos meninos e das meninas do mundo se uniram para perceber o que tinha acontecido à Fada Emoções.
*****Foram um dia encontrá-la na planta do pé, esmagada como uma pomba atropelada mil vezes. As mães dos meninos e das meninas perguntaram o que tinha acontecido, e ela disse que o Coração lhe havia entregue o seu coração, mas que ela não o tinha aceite, e o Coração ficou com o coração destroçado. Contou como tinha sido expulsa da aorta. As MUMs (Mães Unidas do Mundo) reuniram com o Coração e explicaram que ele não podia deixar a Fada Emoções na planta do pé.
*****O Coração chorou lágrimas tingidas de vermelho e foi quando as mães perceberam que tinham de encontrar alguém que lhe devolvesse o seu coração. Havia de haver alguém capaz de remendar o coração do Coração. Falaram com os Rins, mas eles disseram que já tinham par. Os Pulmões disseram que viviam bem um com o outro. O Estômago disse que não se queria relacionar com ninguém que estivesse acima dele, e a Cabeça recusava-se a descer para o visitar. Foi então que decidiram procurar uma solução exterior. Pensaram, pensaram, pensaram… e foi quando perguntaram à Mão-Direita se queria amar o Coração.
*****A Mão-Direita não teve dúvidas de que aquele havia sido o pedido mais estranho que lhe fizeram, mas curiosa como ela é, tocou o Coração para o sentir. Ao início o ritmo dele era lento, mas depois começou a acelerar. E a Mão-Direita, com a sua natural capacidade de tocar e afagar, gostou de sentir aquele pequeno órgão na sua mão, afinal todo ele era meio-quilo de emoções e palpitações. As MUMs convenceram a Mão-Direita a usar a sua habitual destreza para remendar o coração do Coração, e o trabalho ficou perfeito. Não se notava sequer a fita-cola. O coração do Coração já não se lembrava de em tempos ter sido cacos, e por isso não foi preciso muito tempo para ir chamar a Fada Emoções à planta do pé e devolvê-la à sua aorta.
*****A Fada Emoções ainda se lembrava da sua ordem de trabalhos, pelo que rapidamente os meninos e as meninas do mundo inteiro recuperaram as cócegas, voltaram a chorar, a ter pêlos encrespados e a zangar-se. As MUMs sabiam que agora voltariam as birras quando os meninos e as meninas comessem a sopa, que uma ou outra noite seria preenchida por pesadelos e que os meninos e as meninas voltariam a empurrá-las quando elas os quisessem abraçar. Mas as mães também sabiam que os meninos e as meninas haviam de tornar a abraçá-las, mesmo que raramente. Ou muito raramente. Mas o raramente é sempre mais frequente que o nunca, e as mães assim estavam sempre felizes.
*****Once upon a time there was the Emotions Fairy. She lived in the aorta of all little boys and little girls, and with her magic wand she used to drive the things they felt. For years and years she lived unremarkably in that place, and now and then she would tickle the inside of boys and girls, only to appreciate the result of her magic.
*****But one day the Heart noticed her and his heart began beating faster. Then came the butterflies in the stomach of the Heart, the tears of nostalgia in the eyes of the Heart and promises of love in the mouth of the Heart.
*****But the Emotions Fairy, with a well-defined agenda, tried to explain to the Heart that her heart could not be only his, once she had to live and work in billions of places at the same time -- even though it was always the same place: the aorta of boys and girls around the world. But there were many aortas.
*****The Heart did not understand why, and got his heart broken. He immediately expelled the Emotions Fairy from his aorta. And the boys and girls no longer felt ticklish, no longer cried, no longer had frizzy hair, or got angry. At the beginning, mothers of boys and girls did not understand what was happening, and inclusively enjoyed the lack of emotion. The boys and girls would eat soup without grumpiness, would sleep without nightmares, and would not push away their mothers if they hugged them. But they would neither hug them back, and that was when the mothers of boys and girls of the world gathered to realize what had happened to the Emotions Fairy.
*****One day they found her on the foot sole, crushed like a pigeon a thousand times run over. Mothers of boys and girls asked what had happened, and she said that the Heart had given his heart to her, but she had not accepted it, and the heart of the Heart got broken. She told how she had been expelled from the aorta. The United World Mothers had a meeting with the Heart and explained that he could not leave the Emotions Fairy on the foot sole.
*****The Heart wept red tears and that was when mothers realized they had to find someone to give back the heart to the Heart. There had to be someone able to mend the heart of the Heart. They spoke with the Kidneys, but they said they already had a match. The Lungs said they lived well with each other. The Stomach said he did not want to relate to anyone who was above him, and the Head refused to come down to visit the Heart. It was when they decided to look for an external solution. They kept thinking for a while… and that was when they asked to the Right-Hand if she wanted to love the Heart.
*****The Right-Hand had no doubt that this was the strangest request she had ever had, but she was curious, and touched the Heart to feel him. In the beginning his pace was slow, but then it began to accelerate. And the Right-Hand, with her natural ability to touch and cuddle, enjoyed feeling that little organ in her hand, after all he had some pounds of emotions and palpitations. The United World Mothers convinced the Right-Hand to use her usual dexterity to mend the heart pieces of the Heart, and the work got perfect. One wouldn’t even notice the tape. The heart of the Heart would no longer remember the times when he was broken, so it didn’t take long for them to go pick the Emotions Fairy and return her to his aorta.
*****The Emotions Fairy still remembered her agenda, so the boys and girls around the world quickly recovered the tickling, the crying, the frizzy hair and the angriness. The United World Mothers knew the tantrums would be back when boys and girls ate soup, that some nights would be filled with nightmares and that boys and girls would push them again when they wanted to embrace them. But mothers also knew that boys and girls would hug them back, even if rarely. But rarely is ever more frequent than never, and mothers were happy that way.
Tu tens talento, gosto de textos cheios de coração.
ResponderEliminarOlá, S*, Espero que voltes para ler o que postei hoje, apesar de estar um pouquinho sem coração desta vez... :-/
Eliminar