Sou admiradora confessa de poucas coisas, mas como mesma digo, «se é para gostar, então gosto a sério». Isto tem aplicabilidade numa série de alçadas da minha vida, mas hoje queria falar-vos de algo muito particular.
Se as minhas amigas C. e M. escrevessem neste blog, contar-vos-iam das longas horas que elas esperavam por mim nas noites de Terça-feira de há uns anos atrás. Se o meu amigo J. aqui viesse, dir-vos-ia de como tinha recortado o meu rosto de uma fotografia, e o tinha colado ao ecrã de televisão numa dessas Terças-feiras, só para que me pudesse encorpar na protagonista da série a que eu assistia copiosamente.
A série passava num dos nossos canais privados às Terças-feiras por volta das 23h00. Nem a melhor festa, no melhor bar da cidade, me convencia a sair de casa mais cedo. Ninguém saberia da R. até ali por volta das 23h45, e com o passar do tempo, já ninguém perguntava o porquê de um atraso que deixou de ser demora, quando todos assumiram e compreenderam que aquele bocadinho era só meu: eu ficava sentada no velho sofá do meu exíguo apartamento na avenida mais movimentada daquela cidade, enrolada sobre mim mesma, à espera de ouvir os primeiros acordes da música do genérico.
Depois fixava os olhos no ecrã -- nada os demovia daquelas polegadas -- e ria, sonhava, pensava, reflectia, amava, ambicionava e por vezes chorava. Não sei se a minha vida se tornou num longo episódio da série por coincidência, ou se pela exaltada comparação, tentei levá-la à símile.
Consumi devotamente todos os 94 episódios das 6 temporadas, enquanto foram passando na TV. Mas não tardei a trazer todos para casa, e a coleccionar o legado que me entreteve durante tanto tempo. Parecer-vos-á exagero se vos disser que há diálogos que sei de cor, que há cenas que eu poderia representar com mestria e que a minha despedida de solteira foi sob o mote da série. Os que me conhecem bem, sabem que vibro com o conceito.
E é com igual regozijo a que (re)assisto ao humor e à fabulosity nas ruas mais glamourosas de NYC, actualmente em cena -- pela hora do jantar -- num desses canais pagos de séries e pipocas. Fisicamente posso até estar na minha cozinha, por detrás dos tachos, despenteada e enrolada num avental; no entanto, durante aquelas duas meias-horas, estou com a Bradshaw e as amigas, nas ruas mais em voga de Manhattan, a bebericar um Cosmopolitan.
Porque a vida nem sempre é um caminho sofisticado e atraente, e no fim de contas, todas queremos encontrar o nosso Mr. Big.
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Se dúvidas havia... | If there were still doubts... |
I am a confessed admirer of few things, but as I say, «if
it is to enjoy it, I enjoy it seriously». This has applicability in lots of subjects
in my life, but today I wanted to tell you about something very particular.
If my friends C. and M. wrote on this blog, they would
tell you of the long hours they would wait for me on Tuesday evenings of a few
years ago. If my friend J. came here, he would tell you how he cut my face from
a photograph, and glued it to the TV screen on one of those Tuesdays, so just I
could flesh out the main character of the series I watched copiously.
The series was on on one of our private channels on
Tuesdays around 11p.m.. Nor the best party, neither the best bar in town,
convinced me to leave home earlier. Everyone knew that R. would just show up around
11.45p.m., and within time, no one would wonder about a delay, that was no
longer a holdup, when everyone assumed and understood that that was my bit: I
sat on the old couch in my exiguous apartment in the busiest avenue in that
city, rolled over myself, waiting to listen to the first chords of the generic
song.
Then I’d fix my eyes on the screen -- nothing would
move them from those inches -- and I would laugh, dream, think, reflect, love,
covet and sometimes weep. I do not know if my life became one long episode of
the series by coincidence, or if by the exalted comparison, I tried to take it
to the simile.
I consumed devoutly all 94 episodes from the 6
seasons, as they were on TV. But I soon brought it home, and collected the
legacy that entertained me for so long. Maybe you’ll think I’m exaggerating
when I say that there are dialogues that I know by heart, there are scenes that
I could masterly represent and that my bachelorette party was under the motto
of the series. Those who know me well know that I vibrate with the concept.
And it is with equal glee that I (re)watch the humor
and the fabulosity on the most glamorous streets of NYC, currently on scene --
by dinner hour – on one of these paid channels of series and popcorn.
Physically I may even be in my kitchen, behind the pots, disheveled and wrapped
in apron; however, during those two half-hours, I'm with Bradshaw and her
friends, at the most fashionable streets of Manhattan, sipping a Cosmopolitan.
Because life is not always an attractive and
sophisticated way, and at the end, every girl wants to find her own Mr. Big.