3 de maio de 2013

A tua mão na minha | Your hand in mine

Meu caro(a) amigo(a),

Quando passar por mim na rua, se estiver saudoso(a) de me ver, cumprimente-me com um sorriso e escuse estender-me a mão em jeito de «passou bem». Se se sentir impelido(a) a tal, por favor evite-o. Provavelmente, em jeito de cortesia, eu vou estender-lhe a minha mão de volta, mas vou fazê-lo contrariada. E de nada vale tentar conversar comigo, pois eu já não vou ouvir uma palavra; enquanto me detiver, creia que estou a desesperar por encontrar rapidamente uns lavabos onde possa higienizar a minha mão até ao cotovelo. Vou imaginar que a sua andou a tocar em partes recônditas do seu corpo, das quais não tiro qualquer prazer de partilha. Vou cogitar que muito provavelmente se terá detido no trânsito a libertar o seu nariz de mucosidades, e que o fez com o indicador direito, que é sempre o mais utilizado nessa tarefa quotidiana. Vou considerar que poderá ter-se entretido com o(a) seu(sua) parceiro(a) em actividades inusitadas ainda esta manhã, e que não teve sequer tempo para um bom banho. Vou lembrar-me daquele relatório de auditoria ambiental efectuada ao plástico de revestimento do corrimão das escadas rolantes daquele centro comercial, e recordar-me que no mesmo foram identificadas sete qualidades distintas de sémen (e o corrimão tinha sido desinfectado na limpeza das 06h30). Vou matutar na possibilidade de ter transaccionado dinheiro, e cismar que até pode ter cuspido nos dedos para o(a) ajudar a separar as notas. Vou congeminar que provavelmente utilizou aquela esferográfica que aquela repartição pública disponibiliza a todos os contribuintes que lá se dirigem.

Tenho uma imaginação demasiado fértil; e quando o assunto toca as bactérias alheias, a minha capacidade inventiva propaga-se mais do que os microorganismos.

O(a) meu(minha) amigo(a) é quem escolhe onde põe as suas mãos. Por favor permita-me esse livre arbítrio também.

Sem mais de momento, despeço-me com cordiais cumprimentos.
R. del Piño
My dearest friend,

Whenever we meet on the street, even if you’re very pleased to find me, greet me with a smile and excuse yourself from shaking my hand. If you feel compelled to do so, please avoid it. Maybe, in a courtesy gesture, I’ll shake your hand back, but I'll do it unwilling. And it’s not worth to try talking to me, once I’ll not hear a word; while you’re holding me back, please believe I’ll be desperate to find a toilet, in which I can quickly sanitize my hand up to the elbow. I will be imagining that your hand was touching some secluded parts of your body, and I don’t take any pleasure sharing it. I'll think that you may have stopped in traffic to free your nose from mucus, probably with your right index finger, which is always the most used in this everyday task. I will consider that you have been entertained with your partner in unusual activities this morning, and that you probably haven’t washed your hands since. I'll remember that environmental audit report made to the plastic coating of the railing of escalators in that shopping center, and remind that there were identified seven distinct qualities of semen (and the railing had been disinfected in the cleaning at 06.30a.m.). I'll chew over the possibility of you trading money, and think that you could have even spit on your fingers to help separating the bills. I’ll picture you using that pen that that government agency provides to all taxpayers who go there.

I have a fertile imagination, and when it comes to other people’s bacteria, my ingenuity spreads more than microorganisms.

You, my friend, chose where you put your hands. Please also give me the leeway of choosing it.

Yours truly,
R. del Piño

44 comentários:

  1. Todo o cuidado é pouco... no fundo, só és limpinha. :P

    ResponderEliminar
  2. :)) que exagero :)) ... um bocadinho de bacterias nunca fez mal a ninguém :)
    Eu cá só tenho cuidado com os lavabos públicos, quanto ao resto o organismo que trabalhe para se defender.

    Beijinhos e bom fim de semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Se calhar não entendeste: não tem a ver com o facto de não confiar no trabalho do meu organismo. Tenho é muita impressão e nojo, sobretudo quando não conheço os hábitos de higiene dos outros.

      Eliminar
  3. Mesmo com estes cuidados, há bactérias mais que suficientes no dia-a-dia. Eu tenho especial nojo com aquelas coisas que te disse no outro dia e de mexer em dinheiro (por mais que o aprecie...).
    Coisas de pessoa enojadiça, há defeitos piores ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já reparaste que a coisa mais desejada do mundo, é -- concomitantemente -- a mais suja e nojenta? Por acaso eu trabalho sobretudo com o dinheiro de plástico. Evito ao máximo transaccionar notas e moedas (ainda mais nojentas).

      Eliminar
  4. LOL Estou contigo! Estou TÃO contigo! Mas não demasiado próxima... por causa das bactérias ;))))

    THE GLITTER SIDE
    Facebook

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Lolol... Sempre podemos dar um beijinho: é menos nojento tocar cheek to cheek, do que mão na mão.

      Eliminar
    2. R., excepto quando acabas a herdar "betume" alheio. E quando as pessoas beijam com os lábios bem molhadinhos.
      blhec

      Eliminar
    3. Lolol... Eu disse encostar bochecha com bochecha, não lábios com bochecha. Também o considero nojento. E quando alguém me deixa o rosto húmido, tendencialmente vou com a bochecha ao ombro, limpando-a. Às vezes à descarada e tudo. :-P

      Eliminar
  5. Sete qualidades distintas de sémen???
    Vou passar a andar de luvas em sítios públicos!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, sete! As análises foram feitas às 11h30, e o corrimão tinha sido limpo às 06h30. Anos depois de ter lido este relatório, ainda me questiono:seria o sémen proveniente das mãos de homens que se aliviaram no WC do centro comercial, ou das mãos de mulheres, que tinham estado a fazer uns trabalhinhos de mãos??? Não tenho a resposta!

      Eliminar
  6. Juro que nunca mais ponho a mão no corrimão das escadas rolantes. Posso contar os degraus com os dentes porque o mais provável é cair, mas antes cair do que levar comigo 7 qualidades distintas de sémen... Iaaac!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não cais, nada. Há mais de uma década que não toco com um dedo no corrimão de uma escada rolante (ou de qualquer outra escada qualquer, vá), e nunca caí. É preciso concentração e equilíbrio. Cuidados redobrados com aquelas escadas rolantes que estão paradas, e que só começam a funcionar quando pressentem a pessoa: nessas eu aguardo que funcionem a 100%, e só depois entro. Tenho truques. :-P

      Eliminar
  7. eheh agora fiquei com medo de apertar a mão de alguém...

    ResponderEliminar
  8. por essa mesma sondagem é que nunca coloco a mão no corrimão. Não é defeito é feitio
    bjs*

    http://se-tu-saltas-eu-salto.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
  9. Eu passo a vida a lavar as mãos, principalmente depois de vir da rua =)
    Mas nunca nos livraremos das bactérias. Elas "andem" aí :P

    Beijocas

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Com as minhas bactérias eu posso bem (algumas até são benéficas para a nossa saúde); só não quero é partilhar as bactérias dos outros. :-P

      Eliminar
  10. Eu levo com toda a quantidade possível e imaginária de bactérias no meu tão amado local de trabalho =/ E posso garantir que 80% das pessoas que usam o lavabo no avião não lavam as mãos! Creepy.
    Mas já que falaste em apertos de mão, lembraste-me outra coisa que detesto: um "passou-bem" frouxo! :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Antes um "passou-bem" frouxo, do que um apertado. Os apertados vão até às costas das mãos, propagando as bactérias por mais milímetros quadrados da pele. :-))))

      Eliminar
  11. LOOOL eu evito colocar as mãos em locais como o corrimão das escadas, é nojento e nem consigo comer sem lavar as mãos antes, não sei como há pessoas que o fazem!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Basicamente, eu não faço nada sem lavar as mãos. Nada!

      Eliminar
  12. Eu sou uma maníaca com as mãos, passo a vida a lavá-las, não aguento muito tempo sem as passar por agua, desinfetar, senti-las limpas... Detesto apertos de mão!

    ResponderEliminar
  13. Ui! Isso é mesmo assim?!... É muito raro ir a centros comerciais porque são locais que não aprecio, e é raríssimo alguém apertar-me a mão, por isso os apertos de mão não são problema para mim.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Oh Laura, quem me dera. Eu mexo em dezenas de mãos por dia, no meu quotidiano profissional. Mesmo que evite estender as mãos aos clientes, ele estendem-ma, e nem sempre consigo disfarçar. Às vezes digo que estou com a mão suja e tal, e ainda os ouço dizer «ah!, não tem importância». Ou seja, se realmente estivesse suja, as pessoas tocavam nela na mesma. E logo a seguir vão tocar noutra, e mais noutra, e ainda noutra. Não acho isso normal! Em PT este hábito é nojento. Não é à toa que nos países orientais este não seja um cumprimento habitual, nem sequer nos negócios. É mais higiénico encostar o rosto a alguém e beijar o ar.

      Eliminar
  14. ahahahah, o que eu me ri! Não penses tanto nisso :P

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não consigo. Às vezes até parece que vejo as bactérias a olho nu! :-D

      Eliminar
  15. Eu tambem não ponho a mao no corrimão, ahahah! Até o meu filho mais velho proíbe o mais novo de o fazer...

    ResponderEliminar
  16. Como se diz por aqui pelos alentejos:

    Não vais morrer de espirro de grilo nem de coice de pulga!!

    Se calhar preferias que a pessoa a passar na rua te estendesse o pescoço para te dar um par de beijocas!! haha
    Germes fazem bem ao organismo! Já higiéne em excesso, pode ser prejudicial..

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Lolol... Eu não preferia nada. Aura alheia não toca na minha aura, ponto. :-P Só a das pessoas que conheço e algumas... ui, ui! Eu sei que os germes fazem bem ao organismo, mas eu só gosto dos MEUS germes, entendes?

      Eliminar
    2. Hahaha entendo pois!! :)

      Olha, offtopic: o livro da gramática fala sobre pontuação, tem algum capitulo destinado a esse assunto?

      Eliminar
    3. Não, até porque a temática da pontuação é complicada e não reúne consenso. Já a discuti com professores de linguística, de literatura, com o meu ensaísta e nas aulas de escrita criativa, mas é difícil. A única coisa que te posso dizer é que passei a usar mais o ";" e menos o "!". O primeiro dá pinta ao texto. O segundo torna-o literatura light. :-D

      Eliminar
    4. Pena, é que decidi que ia fazer um trabalho para a faculdade sobre a pontuação, mais concretamente da forma como esta pode alterar todo um sentido de uma frase ou texto, e estava já a pensar em adquirir esse se falasse sobre isso.. :)
      Lá terei que fazer outro tipo de pesquisa.. :)

      Eliminar
  17. Acho que, pelo facto de ter obrigatoriamente de contactar todos os dias com coisas nojentas, não penso assim tanto nisso (mas se começar a pensar, até consigo vaguear por coisas bem piores, God!). Isso faz-me lembrar uma aula de Microbiologia no 3º ano onde o professor pediu para, com as mãos como tínhamos, sem as lavar, as colocarmos numa placa de petri. Passado uma semana fomos ver...dezenas e dezenas de colónias de bactérias. Muitas. Muitas espécies diferentes. Aaaaaaaarrrg!

    ResponderEliminar