Primeira Vez?

R. del Piño nasceu há mais de três décadas num hospital de paredes amarelecidas, mas com a janela voltada para o mar. Talvez pela visão do infinito ter sido a primeira fotografia da sua retina, viveu sempre com a cabeça onde não podia estar, e com ambição de chegar sempre ao outro lado. Mas o “outro lado” também tem um lado inverso, por isso tem vindo a debater-se com a frustração variacionista do «só estou bem onde não estou» e «eu só quero ir onde eu não vou».
R. del Piño was born more than three decades ago in a hospital of yellowed walls, but with a window facing the sea. Maybe because the infinite vision was the first photograph of her retina, she always lived with her head where she couldn’t be, aspiring to always get the other side. But the “other side” also has a reverse side, so she has been struggling with a variacionista dissatisfaction.
 
 
 
 
Assentou arraiais no município mais pequeno deste nosso país à beira-mar plantado, e cresceu ignorando que o mundo não era apenas feito de prédios de cores grotescas a tapar o sol, e que o leite provinha das vacas. O momento de erudição chegou a par de uma difícil crise na adolescência (que segundo palavras maternais, terá tido início após 5.844 dias de ingénua e pacífica existência, e durado até à contemporaneidade).
She camped on the smallest county of this beachfront country, and grew up ignoring that the world was not only made of buildings with ludicrous colours, and that milk came from cows. The moment of learning came together with a difficult teenager crisis (that according to maternal words, started after 5.844 days of naïve and peaceful existence, and lasted until contemporaneity).
 
 
Foi adolescente sem internet, e tornou-se adepta musical no tempo em que o motor de pesquisa não se chamava Google, mas fazia-se dedilhando as novidades nos 5 pisos da extinta e saudosa Roma Mega Store na invicta. Fez-se mulherzinha antes da democratização da moda, e na altura em que o supra-sumo do consumismo era uma viagem à Feira de Espinho às segundas-feiras, e o auge uma visita semestral à artéria mais comercial do Porto, Rua de Santa Catarina.
She was an adolescent when Internet didn’t exist, and she became a musical freak when there wasn’t a search engine called Google, but people would do it fingering the novelties at the 5 floors of the extinct but missing Roma Mega Store in Porto. She became a little woman before fashion democratization, and when the acme of consumerism was a trip to Espinho Fair on Mondays, and the peak a biannual visit to the more commercial artery in Porto, Santa Catarina St.
 
 
 
 
O estudo e o labor levaram-na a cidades diferentes: viveu 2 anos na bela cidade esculpida nas escarpas do Corgo e mais de uma década na Veneza portuguesa. Voltou às origens e ao Hotel Mamã mais tarde, e viram-se todos negros para a tirar de lá novamente. Hoje habita com seu cônjuge e os seus walk-ons de 4 patas e muito pêlo, Sebastião Manuel Bonaparte e Rafa Rafeira, numa Rua das Flores, humoristicamente a fazer lembrar uma tragédia queirosiana.
Both study and labour led her to different cities: she lived for two years in the beautiful city carved on the cliffs of Corgo, and over a decade in the portuguese Venice. She returned to the origins and to Mums Hotel later, and then it was very difficult to put her out again. Today she lives with her spouse and her walk-ons of 4 paws and lots of fur, Sebastião Manuel Bonaparte e Rafa Rafeira, in Rua das Flores, humorously reminding a queirosian tragedy.
 
 
Já na maioridade, atreveu-se à emancipação nas refeições, e finalmente teve coragem de questionar o porquê da sociedade matar para comer. Com alguma coragem passou a deixar na borda do prato bifes, bifinhos, filetes, postas e afins, de tudo aquilo que algum dia teve cara. Hoje rotulam-na de vegetariana, embora ela prefira ser chamada de “sensível”.
In the majority, she dared to meals emancipation, and finally had the guts of questioning why society kills to eat. With some courage she started leaving steaks, little steaks, fillets, portions and similar issues of everything that once had a face on dishes edges. Today people label her as “vegetarian”, however she prefers being called as “sensitive”.
 
 
 
 
Entrou na blogosfera há exactamente uma década, mas recriou-se num novo eu internáutico, com que se atreveu a inaugurar uma página nova, diferente daquelas que alimentou em tempos. Sabe que este mundo vive agora de especificidades distintas daquelas que em tempo tão bem manuseou, mas pretende manter-se a par e não desiludir os transeuntes.
She entered the world of blogs a decade ago, but she recreated herself into a new net surfer me, with whom she dared to open a new page, different from the ones in which she used to express herself before. She knows that this world now lives with distinct specificities from the ones she well fingered before, but she intends to keep herself up in order not to disappoint the ones that pass by.
 
 
·▪•● Curtas Shorts ●•▪·
 
 
Adora cães, água, finais de tarde, sonhar acordada e vocábulos do tempo da avó.
She loves dogs, water, late afternoons, daydreaming and words of her grandma’s time.
 
Abomina pessoas encrencas, cuspo e lixo no chão, o acordo ortográfico, traições, mentiras e personificações da lenda «A cobra e o pirilampo» na vida real.
She abhors troubled people, spit and litter on the floor, the agreement spelling, betrayals, lies and personalization of the legend "The snake and firefly" in real life.
 
Apontam como as suas principais competências o facto de coordenar dois pratos distintos ao mesmo tempo em todas as refeições lá em casa, de ser persistente, de argumentar como ninguém em batalhas verbais e de não ter uma única alma igual a si no mundo.
People point out as her main skills the fact that she can coordinate two distinct dishes at the same time in all meals at home, the fact of being persistent, the fact that she argues like no one else in verbal battles and that it ain’t nobody like her on earth.
 
Acusam-na de ter memória de peixe (à segunda volta no aquário, já não se recorda de ter dado a primeira), de ser impaciente e completamente intolerante com os defeitos dos outros. Hey, mas isto – diz ela – não é defeito: é feitio.
People accuse her of having the memory of a fish (in the second round swimming in the aquarium, she no longer remembers the first time), of being quite impatient and intolerant with other people’s faults. Hey, but this – she says – is not a defect.

10 comentários:

  1. Confirma-se!!!E confirma-se com orgulho. :)

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  2. Gostei... Talvez a melhor About page que li ultimamente - e deu-se-me um apertozinho no coração ao ler as descrições da Invicta, coisa que pelos vistos partilhámos na mesma época. Keep up the good work and thanks for the visit!

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    1. Ena, ena, obrigada. Ainda há muito por dizer, mas um dia virá na forma de post. :-)

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  3. Bela súmula de vida!
    Uma década destas lides?!... Céus, estamos então na presença de uma veterana. As minhas sinceras reverências e um beijinho!

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    1. Sou decana, mas não estive activa durante largos anos. Portanto acabo por ser uma falsa novata.

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  4. Como tu dizes que "R" é para o que nós quisermos, vou passar a chamar-te Rita. Pode ser? Só venho aqui escrever um comentário que não é para tu publicares. É mais um desabafo. Sendo tu useira e vezeira nestas lides, de certeza já notaste que os blogues funcionam numa base de reciprocidade: eu escrevo-te, tu escreves-me, eu torno-me membro do teu blogue, to tornas-te membro do meu... Ainda não vi isso, Ritinha! :)
    Um beijinho

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    1. Olá, Lou. Os meus comentários são publicados automaticamente. E sim, sou habitué nestas lides, mas não penso que os blogues sejam moedas de troca. Esta relação estabelece-se de forma mais simples: se eu tenho prazer em fazê-lo, escrevo; se tu tens prazer no que eu escrevo, então lês. Tenho ene seguidores que nunca aqui comentam nada, pelo que creio que nem sequer me lêem. Tenho para mim que usam aquele quadradinho como publicidade. Eu não sigo ninguém (ninguém mesmo!), e todos os dias visito uma série de blogs. Mais ainda: há blogs que leio diariamente, que comento regularmente, cujos autores nunca vieram ao meu Umbilicalidades. Que fazer? Deixar de os ler? Nem pensar...

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