Eu: Boa tarde.
Posso ajudá-la?
Ela: Sim. [Aos
pulinhos de alegria.] Tenho boas novidades.
[Importa dizer que eu nunca tinha
falado com esta pessoa!!!]
Eu: Então, quais
são as boas novidades?
Ela: Em catogze de
Magço deste ano tegminei o… [a gaguejar] o… o… 12º ano.
Eu: Ah boa!,
parabéns.
Ela: E já com o
estágio feito, tamém.
Eu: Muito bem.
Então fizeste estágio em quê?
Ela: Enhe… enhe…
Ténica Admenistgativa.
(Presumivelmente,
um episódio assim não teria lugar no meu local de trabalho. Mas teve! Ter uma
porta aberta ao público atrai todo o género de personagens, mesmo as mais inusitadas.
Mas não é sobre isso que queria escrever.)
Nada contra a menina
jovem ter terminado o 12º ano em catogze de Magço, mas é impossível não ficar encolerizada
com estas aparentes facilidades de há uns anos para cá. Com os dois dedos de
conversa que transcrevi em cima, e mais outros tantos que se seguiram, não tenho
alternativa, senão acreditar que, fora das Novas Oportunidades, ela não teria
alcançado este grau escolar. E como ela, muitos outros(as)!
Eu fui “filha” da
reforma educativa perpetrada pela Manuela Ferreira Leite enquanto Ministra da
Educação. Fiz parte dos milhares de jovens que inauguraram um sistema educativo
diferente, com pressupostos de exigência e obrigatoriedade de estudar um sem
número de disciplinas, mesmo as que não teriam qualquer contexto quando
seguíssemos para a Universidade. Iniciámos o ano escolar sem saber o que
teríamos de enfrentar, sem perceber o que eram esses Exames Finais que nos
valeriam 50% da nota final. Era tudo, ou nada. Não cedemos aos obstáculos, não condescendemos
aos nossos próprios caprichos, e estudámos tudo o que havia para estudar, da
melhor forma possível.
Por altura dos
Exames Nacionais, o meu pai foi internado no IPO após terem-lhe diagnosticado o
seu primeiro(!!!) um cancro. Ia fazer uma operação de cabeça aberta, serrada, para
lhe retirarem do cérebro um meningioma. Antes do internamento, despediu-se de
mim em casa, beijou-me na testa e pediu-me que não tivesse pressa de o ir
visitar ao hospital. «Mas papá…»,
tentei retorquir. Porém ele insistiu: queria que eu me concentrasse o mais
possível nas minhas responsabilidades escolares, e não queria que um duro
ambiente hospitalar, onde a oncologia deixa a descoberto a fragilidade do
ser-humano, me detivesse e desconcentrasse. Fiz 3 exames naquela mesma semana. Enquanto
eu matava o meu cérebro em casa a
estudar, o meu pai debatia-se com a doença e tentava salvar o dele. Não o
visitei, senão 6 dias depois da operação. A concentração no estudo assim o
exigiu. E ele também.
Posto tudo isto, chateia-me
a ideia de eu -- a par com milhares de outros alunos da minha geração -- ter deixado
para trás coisas tão importantes da minha vida, como a saúde de um progenitor,
para me afogar nos livros e terminar o secundário com a melhor nota possível. Actualmente,
o 12º ano está ao desbarato. Há inclusive profissionais a serem pagos pelos
nossos governantes para conduzirem até ao término da escolaridade obrigatória pessoas
cuja cabecinha não lhes daria mais do que o antigo 2º ano do ciclo preparatório (e mesmo com tantas facilidades, há um sem número que tem de "ser levado ao colo").
E sabem o que é irónico no meio de tudo isto? É que um 12º ano nas Novas Oportunidades tem exactamente o mesmo mérito curricular que o 12º ano que
conquistei sem visitar o meu pai no Hospital.
I didn’t translate this post because it is a critics to a recente educational activity advocated in Portugal. Please come back here tomorrow. Thank you. .¸¸.*
A única coisa que se me oferece dizer é que o ensino em Portugal, neste momento, é uma fantochada. Querem mostrar números e mais números e depois é a ignorância e incompetência que se vê!
ResponderEliminarLá isso é verdade: somos um país de analfabetos a exibir canudos. :-S
EliminarCompreendo e partilho da tua indignação. Inclusivé há cerca de 4 anos atrás uma amiga pediu-me para lhe fazer um trabalho que tinha de entregar para conseguir a equivalência ao 9ºano ... Pouco tempo depois, foi a vez de uma amiga da minha mãe me pedir para traduzir por ela um texto! Em ambos os casos recusei e disponibilizei-me para ler o resultado depois de terem feito elas o pouco que lhes estava a ser exigido!
ResponderEliminarNem sei se me revolta mais o (des)mérito curricular se a falta de zelo de algumas pessoas.
Fizeste bem em recusar, Ana ✈. Uma coisa é ajudar, outra fazer. E sim, a par com o desmérito curricular, a falta de interesse das pessoas é enervante. Assim de repente, com estes episódios, fizeste-me lembrar dos desempregados que procuram carimbos, ao invés de procurar trabalho.
EliminarR. As novas oportunidades só servem para Inglês ver as estatisticas. Porque claramente tal como tu mesma tiveste a oportunidade de presenciar, mesmo que alguém se apresente com o diploma isso não lhe vai servir de nada, se nos minutos seguintes de conversa for como essa pessoa que tu descreveste :S
ResponderEliminarÉ o Portugal de aparências que temos!
Oh Sue, até pode não servir nada em entrevistas presenciais. Mas já viste que numa mesa cheia de currículos, o 12º ano desta fulana vale exactamente o mesmo que o 12º ano das pessoas que lutaram e realmente estudaram para o obter? Pelo que me recordo do liceu, há imensa gente que não tem potencial para terminar o secundário. Então porquê oferecerem-no?
Eliminarnão teria dito melhor.
ResponderEliminarTb eu sou dessa gereção e é revoltante ver em que se transformou o ensino nos dias de hj
bjs*
http://se-tu-saltas-eu-salto.blogspot.pt/
Uma vergonha!!! Temos vindo a diminuir o grau de exigência, não percebendo que esta triagem é um dos traços fundamentais para a boa estruturação social. :-//
EliminarEntendo a tua revolta, hoje em dia parece que é tudo de mão beijada, nós que nos esforçamos somos a geração à rasca...pffff
ResponderEliminarNa altura milhares de alunos foram para a rua, revoltados pelo que lhes estava a ser exigido. Confesso que nunca participei numa dessas manifestações, porque eu mesma, enquanto estudante, percebia que era importante a exigência. Agora andam por aí a dar diplomas de secundário a quem tem de escrever uma composição sobre a sua vida!!! A ser assim, enquanto bloggers, devíamos obter um grau académico superior a cada conjunto de 10 posts que fazemos. :-D
EliminarO Relvas, por exemplo, tirou o curso nas Novas Oportunidades...
ResponderEliminarEsse é outro exemplo do "analfabrutismo", mas pelos vistos parece que vai ter que devolver o canudo e colocar o rabinho entre as pernas. Sobre as supostas equivalências também tinha imensa coisa a dizer, mas fica para outro post.
EliminarConcordo inteiramente contigo...essa treta das novas oportunidades tira-me do sério ainda mais quando ouço a minha sogra dizer que "foi difícil". Ah sim? Então gostava de a ver a tirar o 12ºano a sério!!
ResponderEliminarDifícil, agora? Há temos estive a ler o programa curricular -- porque uma das minhas melhores amigas é uma das tais que é paga pelo Estado para cumprir objectivos de levar pessoal a terminar o Secundário -- e achei que aquilo era uma vergonha. Um exame da 4ª classe no meu tempo era mais difícil!!!
EliminarCriaram este facilitismo, esta fantochada toda só para apresentar estatísticas razoáveis a nível internacional. É fantástico; uma pessoa passa de repente de um diploma de ensino básico para um diploma de ensino secundário...
ResponderEliminarFalaste bem: é que para além de não terem mérito nenhum no grau que atingem, ainda por cima conseguem a proeza de levar apenas um ano lectivo a fazer o que nós tivemos de fazer em 3. Mais rápido e eficaz não pode haver. Mas como já disse em cima, o país tem boas médias ao nível do número de pessoas com a instrucção obrigatória, mas eu nunca vi tanto analfabetismo junto. Porque ser-se analfabeto não é só não saber ler e escrever.
Eliminarfáceis oportunidades, queriam eles dizer...
ResponderEliminarEsqueceram-se dessa parte. Ou então era para não levantar suspeitas. :-S
EliminarGosto da ideia das novas oportunidades, mesmo que apenas 10% tenham realmente aproveitado (não faço ideia das percentagens). Tive colegas na primária que trabalhavam no campo e em casa e lhes faltava tempo e energia para estudar. Para casos assim, acho mesmo boa ideia que tenham pensado nas novas oportunidades.
ResponderEliminarRepara, Redonda: eu não estou a dizer que estas pessoas não deviam ter direito ao ensino, porque têm. Aliás, eu própria sou apologista de gerarmos métodos para levar as pessoas a estudar. Mas lá está, levar as pessoas a estudar, não significa estudar por elas. E o que é que as Novas Oportunidades faz? Estabelece objectivos ambiciosos aos tais profissionais / orientadores do programa. E o que é que eles fazem? Tudo, literalmente tudo (porque se for preciso, até fazem os trabalhos por eles), para poderem garantir a boa sustentabilidade do seu trabalho. Porque entre formar profissionais e ter emprego, ou manter a exigência básica e perdê-lo, as pessoas optam pela primeira.
EliminarÉ uma situação gritante...!Uma vergonha!
ResponderEliminarUma pequena gota no oceano vergonhoso em que os portugueses se vêem hoje submersos.
EliminarÉ profundamente injusto. Não consigo entender.
ResponderEliminarÉ isso, e eu ter que ter andado a matar-me durante 5 anos para ficar com uma licenciatura, quando agora, com o mesmo timming, trazem licenciatura + mestrado para casa.
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarITK, apesar de tudo, o progenitor hoje está bem. Já contou outro cancro entretanto, mas como tem mau feitio e é osso duro de roer, tem dado a volta por cima. E ainda bem para mim, para ele, e para quem o rodeia.
EliminarQuanto ao resto, fico triste de perceber que nem toda a gente pôde vivenciar o ensino como eu o fiz. Felizmente nunca tive interregnos de professores na escola, e levei muitos dos programas curriculares até ao fim. Penso que tem tudo a ver com o estabelecimento de ensino, com o meio onde está inserido, e com a exigência que os Encarregados de Educação fazem. Eu não admitia que um(a) filho(a) meu andasse numa escola com tantas lacunas, como as que descreveste. Felizmente andei em boas escolas, e os 3 anos de complementar (10º - 12º) foram numa escola modelo, para onde eu só pude entrar com uma carta de recomendação da minha escola anterior. Conto pelos dedos das mãos os "furos" que tive.
Hoje em dia os miúdos não têm "furos". Se um professor falta, estão lá os de substituição, mesmo que não leccionem a matéria que era suposto eles terem nesse horário. Com isto, até estou de acordo. O real problema dos nossos dias, é que um professor que queira reprovar um aluno tem de fazer um sem número de relatórios (e ter muito cuidado com o que escreve, não vá pôr ele próprio em risco o seu trabalho), pelo que muitas vezes, na dúvida, o passa, quando se calhar o aluno não o merecia realmente. Pior do que isto, é a mobilidade dos professores. Para a boa formação dos alunos, penso que é primordial haver um fio condutor. Já é difícil os miúdos terem 10 professores diferentes, para 10 disciplinas distintas. Agora imagina quando vem um, desiste no primeiro período, depois vem outro, até meio do terceiro, e por aí fora... e na mesma disciplina. Isto sim, arruína as boas bases lectivas.
R., as Novas Oportunidades até foram uma boa ideia. Acredita. O problema foi que se desleixaram e começaram a abrir exceções que levou a uma tão má fama.
ResponderEliminarAs Novas Oportunidades quando foram criadas, eram com a intenção de dar equivalências escolares e profissionais, a pessoas que tivessem experiência "de vida" e profissional num determinado campo. Pessoas que toda uma vida foram canalizadores, electricistas, you name it, mas que nunca puderem frequentar a escola, e que agora, usando essa experiência de longos anos e com algumas aulas presenciais, lhes seria atribuido a dita equivlência a nivel escolar. Para caso se vissem numa situação de desemprego, terem mais do que um "trabalho nisto há 15anos" para apresentar numa entrevista de trabalho.
Depois claro, houve alguém que achou que aquilo iria facilitar alguns amigos e amigos de amigos e começaram a alargar quem podia concorrer. E qualquer pessoa o podia fazer a partir dos 25 anos de idade! Ora está claro que houve logo os oportunistas que viram ali uma boa forma de cagar na escola, esperarem pelos 25anitos, e irem depois tirar o 12º ano.. Nos entretantos, ficavam a receber os RSI e afins. E obviamente, a partir deste momento, as novas oportunidades perderam toda a credibilidade, rigor, e começaram a usa-la para elevar os indices de sucesso escolar no país.
Em suma, a ideia era boa, mas once again they ruined it!
Nem te sei dizer se a própria ideia de base era boa, ou não, confesso! Concordo com a ideia da "experiência de vida", que -- se bem aproveitada -- é a melhor escola que nós levamos dos nossos dias. Mas não vejo necessidade de termos que lhes dar um diploma por isso. Porque a ser assim, e a contar todas as coisas em que já trabalhei e fui exímia na execução, eu tinha de ter cerca de 11 canudos cá em casa. Mais coisa, menos coisa.
EliminarMas voltando atrás: porquê dar um diploma do secundário a uma pessoa que vai continuar a querer exercer uma profissão prática, quando as verdadeiras Novas Oportunidades assentam na teoria? A mim arreliam-me estas coisas... A minha amiga que trabalha neste programa já tentou um sem número de vezes colocar um operário ou uma gaspeadeira a escrever sobre o seu trabalho, no âmbito da dita "experiência de vida", e as pessoas não foram capazes de articular uma só palavra. E para quê? O que elas querem é levar o salariozito para casa no final do mês, e para as suas poucas ambições de vida, a coisa vai servindo. Muitas vezes é a minha amiga que escreve os relatórios dos formandos, porque é paga para atingir determinados objectivos. E se não os cumprir, vem para a rua. :-S Provavelmente faria o mesmo se estivesse no lugar dela, mas viveria ainda mais indignada pelas condições humanas dessa gente.
Minha querida, não tenho bem a certeza e nem vou ateimar, mas as novas oportunidades não têm o mesmo valor que o 12º ano que tirámos. Muitos patrões perguntam logo como foi tirado esse 12º e se disser que foi através das novas oprtunidades: muito obrigado mas não estamos interessados.
ResponderEliminarSe se torna um bocado injusto? Torna-se.
Mas nem toda a gente tem tempo, capacidade e paciência para tirar o 12º ano na escola normal.
Acho que podiam era aproveitar as novas oprtunidades para ensinarem algo de útil. Embora sejam só 3 ou 6 meses, porque não ensinar inglês ao pessoal? Porque não ensinar Português como deve de ser? Porque não ensinar a mexer num pc?
Era bem mais útil.
Beijocas
Por isso é que falei na valorização em termos curriculares. Eu sei que numa entrevista e numa decisão final, um 12º ano "a sério" vale mais do que o das Novas Oportunidades; mas os 12ºs assentes num currículo, com tantos currículos numa secretária num processo de selecção, são todos iguais. (Não tenho a certeza de me ter feito perceber muito bem. Fiz?)
EliminarÉ realmente uma injustiça e também me chateia o facto de ambos valerem o mesmo em termos curriculares
ResponderEliminarBeijinhos
Como eu disse já em cima, é isso, e as licenciaturas de antigamente comparadas às de Bolonha. It sucks!
EliminarCoisas que acontecem quando a liberdade é transformada em "libardinagem"...
ResponderEliminarAinda gostava de saber por onde anda a so-called liberdade. :-S
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