13 de abril de 2013

Ególatras Umbilicais | Umbilical egotistical


Saí esbaforida naquele dia. Apressei-me pelas escadas abaixo, cruzei com um vizinho que não consigo descrever e deixei escapar um "bom dia, como vai?". Nem dei importância à ausência do seu feedback! Sabia ir encontrar um dia agitado depois da porta do prédio, e não me podia deter em hesitações.

Enquanto descia a avenida e analisava o meu reflexo nas montras das lojas, não fosse ter trajado algo do lado do avesso, tropecei nuns quantos rostos familiares. A eles sorri e questionei "passou bem?". Alguns espécimes mais distraídos responderam em gestos mecânicos. Talvez até nem me tenham notado.

Outros conhecidos, menos desatentos, devolveram-me a questão com a devida direcção, mas na verdade eu também não lhes ofereci qualquer resposta.

Quando começava a reflectir que naquela manhã ainda não me tinha aberto ao mundo, ou recebido um sinal da sua abertura para comigo, algo fez-me despertar numa maior clarividência. Já quase a chegar ao local de trabalho, avistei a Ana. Sustive-me por alguns segundos na ponderação das minhas obrigações sociais e escolhi esperar para lhe dar um "olá".

Assim que percebeu a minha presença, rasgou o sorriso e acelerou o passo. Enquanto nos cumprimentávamos, deixei escapar um natural "estás boa?", quando quase em simultâneo recebia a questão "como estás?". Em frases apressadas e atropeladas contei-lhe do projecto em que estava envolta e de como andava tão realizada, quanto cansada.

De sorriso solidário, a Ana afagou o meu ânimo com algumas palavras de força e falou-me de si. Entre relatos e histórias breves dos seus sucessos pessoais e profissionais, percebi no seu júbilo quão cristalina estava a sua aura.

Não despendi mais do que dez dos meus preciosos minutos e acabei aquele deleitoso encontro com um suspiro sorridente invejavelmente invejoso. Fiquei feliz pela minha amiga! Mas acima de tudo fiquei surpreendida pelo carácter rejuvenescedor daquela troca de palavras.

Quando me sentei à secretária para começar a organizar o trabalho daquele dia, já nada me soava a aborrecido ou fastidioso! Foi então que fui assaltada por uma questão concreta do meu subconsciente:

Em que altura da nossa vida somos forçados a voltar-nos para o nosso umbigo, acreditando que nunca há tempo para mimar as nossas afeições, ao invés de realmente desejar uma resposta quando saudamos alguém?




I left breathless that day. I hurried down the stairs, ran into a neighbor who I cannot describe and I let out a “good morning, how are you”. I didn’t mind with the absence of his feedback! I knew I was going to face a busy day on the other side of the door of the building, and I could not halt myself.

While walking down the street and looked at my reflection in the shop windows (to check if I’d dressed something inside out), I stumbled on many familiar faces. I smiled at them and questioned “how are you?”. The more sidetracked specimens responded with mechanical gestures. Maybe they haven’t even noticed me.

Other acquaintances, less distracted, returned the question to me with proper direction, but I actually did not offer them any answer.

When I started thinking that on that morning I hadn’t open myself to the world, or received a signal of its opening to me, something made ​​me wake up in greater clarity. Almost arriving to work, I saw Ana and I held me for a few seconds in the weighting of my social obligations and I chose to wait to tell her “hi”.

As soon as she noticed my presence, she tore her smile and quickened her pace. As we greeted each other, I let out a natural "are you ok?", when almost simultaneously I received the question "how are you? '. In hasty and run over sentences I told her about the project in which I was wrapped and how I was fulfilled, even if tired.

With a supportive smiling, Ana petted my spirits with some words of strength and told me about herself. Among reports and brief stories of her personal and professional successes, I realized in her exultation how crystal clear her aura was.

I did not spend more than 10 minutes of my precious time and I finished that delightful encounter with an enviably envious smiling sigh. I was happy for my friend! But most of all, I was surprised by the rejuvenating nature of that exchange of words.

When I sat at my desk to start organizing the job for that day, nothing sounded boring or tedious to me! It was then when I was assaulted by a concrete question of my subconscious:

At what point of our lives are we forced to turn to our belly, believing that there is never time to indulge our affections, rather than really wanting an answer when we greet someone?

10 comentários:

  1. Depende da personalidade de cada um, acho eu...

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  2. uma vez escrevi um post sobre isto... estava numa fase menos boa da vida e quando o meu chefe me perguntou, ao chegar ao trabalho, se estava tudo bem eu desatei num desabafo imenso, falei sozinha durante uns cinco minutos. quando olhei para a cara dele... percebi que ele não queria realmente saber se se passava alguma coisa, tinha sido só uma pergunta de rotina por educação....

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    1. Nem o teu chefe, nem ninguém. Também já me apercebi disso há muito. :-(

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  3. Actualmente as pessoas estão muito egoístas, olham apenas e somente para o seu umbigo. E, claro, há muita falta de educação... De repente parece que "bom dia / boa tarde / boa noite" e "obrigada/o" pagam imposto porque ninguém diz...

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    1. As pessoas andam tão imbuídas nas suas vidinhas, que se esquecem que há vidas alheias.

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  4. Acho mal não se obter "resposta" e aliás, a resposta ou a pergunta serem ditas por obrigação.

    Mas hoje em dia fica tudo muito parvo quando se utiliza um obrigado, um tudo bem, um por favor...

    Beijocas

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    1. É, não é? Eu fico fula quando não há sequer um "viva" ou "saúde" quando espirro.

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